quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ode à tolerância ou das 5 coisas que não gosto mas tenho que conviver [ Galuiza ]


Este texto é uma resposta ao desafio da Suh Gomes, participante da plataforma virtual em que eu trabalho(sim, logo mais dou mais detalhes!). Tô sumida daqui mas, de antemão quero dizer a Dri-k. Que lindos textos amigaaaaaaaaaaaa! Perfeitos, depois comento neles rsrs. Sem mais delongas, lá vai o desafio.



1 Tenho que conviver com a violência. Tomei pavor!! Mas pavor mesmo! Parei de assistir TV por causa da violência. Espremeu o noticiário sai sangue. Então, sou assim: falou de morte perto de mim, tampo o ouvido. Tá, pode me chamar de Alice, mas que mal tem querer um mundo de maravilhas? Eu quero. Sonhadora sim, mas não a única. John Lennon também era.

2 Tenho que conviver com passarelas e pontes. Medo extremo, absoluto e inexplicável. E não é de altura. E pra variar, ao ir pra casa, PRECISO atravessar uma passarela. Que tem buracos no concreto e dá pra ver a pista lá embaixo. Ó céus.

3 Tenho que conviver com ônibus lotado. Pô, nada pior! De manhã cedo, você toma banho, tá cheirosa e daí vem aquele sayadin do inferno todo suado e encosta. Haja perfume! Ônibus é tortura. Ainda bem que meu lado masoquista está em ordem. Aprendi a ver o prazer da viagem e pronto, é isso que levo: as histórias que me rendem altas gargalhadas. Afinal, tudo de engraçado acontece no ônibus em que estou. Parece brincadeira. Ou arte de um duende travesso, só pra me ver rir.

4 Tenho que conviver com gente sem noção. Moro em uma travessa, minha casa é a penúltima. Janela de frente pra rua. Computador fica na sala, próximo à janela. É ou não cenário perfeito para um sem-noção? E então eles chegam, - sim, são vários -, chamam mainha e ficam bisbilhotando as minhas conversas no msn. Pô, não, eu não estou falando nenhum segredo de estado mas se tem algo que prezo é a minha privacidade. Quem não?
Decidido. Vou dar um gato a cada um dos meus vizinhos. Com sete vidas, eles não vão ter tempo para cuidar da minha né? E quem me dera isso fosse só com eles. Na verdade o tópico refere-se a pessoas invasoras da privacidade alheia. Tem coisa mais irritante? Aquela que fica atrás corujando, lendo o que você digita. Dá vontade de gritar no ouvido: cuida de sua vidaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Mas mocinhas tem que manter a boa educação né? Mas que dá vontade de descer do scarpin nestas horas ah dá.

5 Tenho que conviver com gente sem noção 2 - Sabe aqueles que tem gafe no sobrenome? Que perguntam ao esposo mais velho se a mulher é filha e a uma gorda se ela está grávida, que pedem a última - e a mais gostosa - mordida do teu sanduiche, que aceitam aquele chocolate único que você ofereceu por educação com cara de quem não quer oferecer. Ah vai, todo mundo comete uma gafe. Quem nunca o fez, ou não viveu, ou é o Forest Gump. Já cometi inúmeras. A elegância está em como sair delas. Nem sempre é possível, mas eu gosto do bom humor. É indispensável nestas horas. Quem nunca foi chato que atire a primeira pedra.

6 Ah Suh, sei que você disse 5, mas esta vai por minha conta rsrs. Desgosto de pessoas hipócritas. Sabe aqueles que Pessoa chamou de semideuses? Daqueles que nunca levaram porrada na vida, daqueles do poema abaixo. É. Como Bandeira, estou farta de semideuses.




Poema em linha reta
Fernando Pessoa


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Um comentário:

Sindlink disse...

Muuuuuito bom Gal!!!!Concordo com os 5 tópicos,me identifiquei com todos eles!!!E o texto de Fernando Pessoa...lindo!!!![Dri]